Rosana Braga
Lembre-se de uma situação bem desagradável que já aconteceu
com você! Talvez uma traição num relacionamento, uma mentira descoberta, uma
briga grave ou algo assim. Agora, sem abusar do lugar de vítima, tente
retroceder esse acontecimento na memória, como se fosse um filme que pudesse
ser rebobinado em câmera lenta.
A ideia é que você perceba que antes do "caldo
entornar" ou "da porca torcer o rabo" ou do pior ter acontecido,
alguns sinais foram dados. Se você reparar bem, nada acontece da noite para o
dia, ou do nada, como muitos preferem acreditar. Além disso, tudo o que faz
parte da nossa história, sempre inclui a nossa participação, de uma forma ou de
outra. Ou seja, nunca somos somente passivos. Há algo de nós que está ativo em
qualquer circunstância e que precisa ser considerado se quisermos aprender alguma
coisa. Nem que seja como não cometer o mesmo erro infinitas vezes.
O fato é que a vida sempre nos manda dicas, sinais, avisos
sobre estarmos ou não estarmos no caminho certo. Mas, geralmente, ignoramos,
não estamos atentos. Simplesmente insistimos no mesmo, no cômodo, no conhecido.
E quando dá errado, imediatamente vestimos a carapuça de vítimas. Vítimas do
outro, da injustiça do mundo, do raio que o parta. Nunca vítimas de nós mesmos,
das armadilhas que nós mesmos armamos contra nossa chance de ser feliz.
Se repararmos bem, diante de grandes dores que vivemos -não
de todas, é claro, mas de muitas delas- poderíamos ter evitado de alguma forma.
Ou amenizado o desastre, pelo menos. Quer exemplos?
Muito antes de um relacionamento terminar, poderíamos ter
sido mais atentos, ouvido mais, tentado melhorar em algum aspecto? Muito antes
de uma traição, poderíamos ter nos interessado mais, elogiado mais, criticado
menos? Diante de agressões, poderíamos ter buscado ajuda, investido em nossa
autoestima?
Veja bem, não se trata de "chorar pelo leite
derramado", nem acreditar que seja possível viver uma vida sem erros,
enganos e dores. Não se trata, tampouco, de se afundar numa culpa inútil. Não é
isso! Afinal de contas, é o erro que, em última instância, nos proporciona a
chance de descobrir como acertar, muitas vezes.
Estou falando de parar de acreditar que a vida é mesmo tão
difícil, tão exigente de sacrifícios, tão cheia de dores. Estou falando de
olhar o outro, o amor e as relações por um viés mais claro. Tem a ver com abrir
os olhos e ver; manter-se atento ao que acontece ao seu redor. Tem a ver com
intuição, percepção, sensibilidade. Talvez uma combinação equilibrada entre
razão e emoção, visível e invisível, o que se diz e o que se cala.
Se queremos acertar, precisamos antes admitir que nem sempre
sabemos como. Mas podemos aprender. E isso se faz com atenção! Quanto mais
abertos estão a nossa mente e o nosso coração, mais teremos condições de
avaliar e escolher de que forma e para qual direção daremos o próximo passo.
Então, chega de botar a culpa por sua tristeza e
infelicidade no mundo, como se você nada pudesse fazer para mudar isso. Você
pode! Aos poucos, devagar. Sobretudo, mantenha-se acordado para a vida, porque
ela está ao seu favor, e sempre manda sinais. Sem dúvida, sinais de amor.
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